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Friday, March 23, 2007

Dois atómos sutis no revéillon - versão II (experiências estilísticas)

Não sei que referência cultural, que clichê lingüístico, que cacofonia ou expressão idiomática tiro da manga do paletó para descrever a beleza do revéillon de Copacabana, visto a 1250 metros de altura, do platô da Pedra Bonita. Se pintura, um quadro de Jackson Pollock no céu da Zona Sul. Se música, um louvor de esperança para os que carecem de espiritualidade.

Atente para o pôr-do-sol, crepúsculo tão óbvio, já tão fotografado, ultrapassando os limites da sua banalidade.

É preciso manter-se anônimo diante da fragilidade da língua e de sua total incapacidade para descrever fielmente as espécies e construções, desde a simples flor ao mais intimidador espigão, iluminados pelo sol. Poder-se-ia (mesóclise, por que não?) alegar que não há palavras para descrever. Nem mesmo os deuses as teriam, afirmativa esta próxima da heresia, pois a eles, os deuses, não faltam palavras. Conhecem-nas todas. Se não as usam é porque preferem o silêncio, o escuro, a bolha d'água no mar revolto.

O que dizer se tudo já foi dito?

Afinal, um nome comum, grafado na certidão de uma nova criança, transforma a todas em Cláudias iguais? Mas, quais!!! Prazeres diferentes.

Foi tudo muito bonito, somente, simplesmente. Pronto, fica aqui esse adjetivo, o dito pelo não dito, que, fértil e simples, dá na boca de todo mundo, assim como a maria-sem-vergonha dá em qualquer mato, descampado ou jardim de primavera. Fica aqui o espanto de ver que o Rio é bonito demais do alto.

Percepções todas muito óbvias, mas é assim, óbvia, a mata atlântica, verde simplesmente; o céu azul, azul somente. Lá embaixo, as casas encravadas no meio da floresta nos dão a sensação de que podemos reduzir a velocidade de nossos ponteiros. E, a Rocinha, de longe, desperta em nós o que, hoje, é tão difícil de se manter acesa - a misericórdia.

De longe, tudo é belo, todos são iguais, o trabalho é um fardo leve, e amanhã é um belo dia de sol no firmamento.

O ano finalmente vira. As pessoas se abraçam, suas bocas sabendo ainda a cereja...recomenda-se não esquecer a primeira taça de espumante do ano...a comida é saborosa...a cidra foi barata... a noite não é fria, traz apenas um vento veloz que passa como o trem, lotado, repleto de de eletricidade vital, mais uma das mecânicas do universo. E, não vou aqui fazer ponderações metafísicas, porque o abraço da boa companhia me faz perceber que estou vivo e isso importa mais do que ter dinheiro na conta bancária para pagar pelo ingresso para o céu.

2007 não é apenas um ano, mas será o melhor ano de nossas vidas, e 2008, alguns dígitos melhor e, de dígito em dígito, iremos ultrapassando nossos limites, até que, ao contrário do que vociferam alguns, chegaremos não ao apocalipse, mas a um novo gênesis de nossa existência.

Pois somos puros e verdadeiros, somente, simplesmente... dois átomos sutis.

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