A nova onda da galera
Quem quer passear de charrete em Paquetá, hoje em dia? Demodé demais. Os jovens estão n'outra. Os velhos, eventuais saudosistas, estão cada vez mais atacados pelo reumatismo e, convém não arriscar, procuram cada vez menos se afastar das farmácias de Copacabana. Paquetá já era. Bem dizia a nossa avó que quem foi ao vento perdeu o acento. Essa máxima, sim, tem o seu lugar garantido na eternidade. Não sai de cartaz nunca.
Assim como Paquetá, muita coisa que vimos ou vivemos ainda está por aí, boiando, mas no fundo no fundo sabemos que faz parte mesmo é do baú do passado. Os tempos são outros. Quem se assusta com pornochanchada ou sequer cogita que alguém se horrorizou um dia? Mas, muita gente se ruborizou no cinema diante de uns amassos mais abusados, de uma nudez mais sacana.
Estamos em 2006. Os ventos da modernidade quebraram as vidraças da caretice. Ainda não foi regulamentado no Diário Oficial, mas o sexo no primeiro encontro tá rolando solto e até o governo federal recomenda o uso da camisinha. Da minha parte, não tenho notícia na vizinhança de algum casal que teve que esperar a lua-de-mel, arriscando-se assim a uma desagradável decepção de tamanho e desempenho.
Como não poderia deixar de ser, sexo foi a primeira coisa que veio à minha cabeça, mas há outros argumentos. É claro, o mercado tem os seus. Não podia perder a oportunidade. Quem na platéia leu a notícia de que jovens estão usando um interessante spray antibactericida em micaretas, uma medida asséptica, entre um e outro beijinho (de língua) de parceiros sempre diferentes? Quem? Quem?
Da mesma forma como a camisinha pode ser a solução para o sexo em série (e é), o spray pode impedir pequenos incômodos bucais, mantendo a produtividade dos nossos jovens cada vez mais alta, preparando-os para as fábricas de atum, ou para os corredores dos hospitais públicos, onde se morre por segundo. Nem o ato de borrifar a boca do ficante com um remedinho, para só então efetivar a junção de línguas, agride o romantismo dos micareteiros. Até porque o conceito de romantismo mudou muito, convenhamos. Quem não se matou por amor até hoje perdeu o bonde. Babou.
Afinal, não é romântico ver o pôr do sol? Sempre será. E que tal em Fernando de Noronha? Putz, show de bola. A fim de tornar a experiência acessível a todos, uma empresa lançou recentemente um DVD com três opções de pôr-do-sol em Fernando de Noronha. Idéia brilhante de alguém que encontrou uma solução rápida para a nossa pressa crônica. E TV, todo mundo tem.
(Confesso que estou tentado a mudar de assunto, só para, falando de flores, preencher uma parte desse cumprido espaço, que me reservaram. Encher lingüiça , no popular. Posso falar do tempo, que, faça sol, faça chuva, sempre funciona para quebrar a barreira do silêncio...
Mas há muito o que arrumar no mundo até que as coisas estejam perfeitamente posicionadas em seus lugares, com base no plano que criei, e estou executando, de um mundo ideal. Por sinal, essa mania de perfeição me dá muitos problemas. Inclusive, na semana passada mesmo, alguém me xingou na rua e achei que era um réles caso de homônimo, mas como o transeunte continuasse chamando "Antero, seu (...)", "Antero, seu (...)", acelerei o passo, defendendo a vida com as pernas)
Enfim...vocês, meus três leitores, são prova de que sempre me esforço para que esta coluna não se transforme em calúnia. Por isso, evito tocar no nome de pessoas. Aqui, perto do fim, não há como. O empecilho é porque a maior parte dos programas da TV geralmente têm o nome dos seus apresentadores e, por isso, só por isso, cito o Hulk e seu Caldeirão, da Tv Globo. Quando vejo aquelas dançarinas e seus sorrisos bem tratados, estudantes da Faculdade da Cidade, me pergunto se talvez as dançarinas do Chacrinha não estejam hoje morando em Paquetá, longe de toda esta confusão nas tardes de sábado.


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