literalis

Um site para eu poder falar o que eu quiser sem revisor e editor na minha cola.

Monday, March 26, 2007

Ovelha, mulher e trabalhadora

Ainda criança, depois de assistir pela primeira vez a "2001, uma odisséia no espaço", fui acometido por uma paúra inesperada e fugi do que seria o meu primeiro beijo na boca. Temi me apaixonar pela menina de 12 anos, casar, ter filhos e ver minha nova família, logo depois, aniquilada pela vilania dos PCs.

Hitchcock também teve uma parcela de culpa pela minha infância introspectiva. Durante muito tempo, preferi ficar trancafiado em casa a brincar na praça da esquina, temendo ser atacado por milhares de pombos, numa versão tupiniquim de "Pássaros", do cineasta britânico.

Hitchcock e Kubrick erraram feio. A aposta certa seria as ovelhas. É com elas que temos que nos preocupar.

Essa fobia anunciada começou quando, sorrateiramente, as ovelhas tomaram as vagas nos laboratórios de uns poucos ratinhos em experiências científicas. Tudo sem processo seletivo, fruto de um baita pistolão dos criadores do quadrúpede. Lobby forte. Afinal, por que a ovelha e não a cabra? Agora, o que acontecerá, depois que cientistas americanos anunciaram ao mundo a criação do primeiro mamífero da espécie com 15% de células humanas e 85% de células animais?

Vou perder meu emprego para uma ovelha!!!

Resisti ao avanço dos computadores, mas estou ficando velho e cansado, presa fácil para uma ovelhinha carreirista saída de uma universidade de Nevasca. Vou ter que aprender a ficar de quatro para competir? Temo por menos vagas nas universidades, super-população na China, acesso à internet cada vez mais congestionado.

É bom lembrar que já houve o precedente Dolly, a ovelhinha camarada, mas, felizmente para os imigrantes que tentam a qualquer custo atravessar a fronteira entre o México e os EUA, ela não era muito chegada ao trabalho, não ofereceu concorrência. Desde cedo, Dolly foi preparada para a fama. Desde a concepção. Seu pai, um cientista de meia-idade obcecado por séries da Sony, desejoso de ter filhos, embora fosse estéril e tivesse pouca intimidade com o sexo oposto, certa noite, fez um bom uso de tubos de ensaio e de ampulhetas e conseguiu a tão almejada paternidade.

Não houve sexo, mas a igreja jamais perdoou o papai Dolly. Um prosélito de Darwin, acusou, taxativa assim. Atacava-o nas homilias. Ele não entendia. Afinal, daria sua filha à humanidade, não para morrer numa cruz, como Cristo, mas para ser a primeira de uma geração que viria para nos aliviar da longa espera das filas de transplantes.

Os anos passavam, e Dolly crescia. Cultivava belos cachinhos de uma angelical criança. Quando pai e filho saiam de casa, para as visitas diárias ao laboratório, os vizinhos sempre mostravam um carinho efusivo, abraçavam o filhote, beliscavam sua bochecha.. solidarizavam-se com as assaduras.

O pai, de tão orgulhoso, sequer percebia a expressão facial enigmática da ovelhinha. Ela lembrava os suicidas esquadrinhando a altura no peitoral. Sua carinha era triste, mas papai cientista lhe prometia um futuro brilhante, falando-lhe ao ouvido, baixinho, pela língua do "mé". Dolly era um ovelha, não era um cabrito, mas os dois logo concordaram que o som era o mais apropriado para a comunicação doméstica.

Via-se na cara, na qual já nascia um bigode de bode que ela dizia ser grunge, que o mamífero desprezava a humanidade. Prostituir-se-ia. Mas, rebelava-se matando humanos nas máquinas de fliperama, aonde ia diariamente com sua babá. Por que não era humana?, perguntava-se ainda criança, enquanto brincava na montanha-russa da Terra do Nunca, abraçada a um excitado Michael Jackson.

No auge da popularidade, Dolly apertou a mão de chefes de estado, viajou o mundo todo. Emocionou-se especialmente quando visitou a Torre Eiffel. Na adolescência, fumou, mas não tragou. Foi o que disse para se livrar da cana. Quando precisou de emprego, pensou em seguir a política, mas desistiu, afinal continuava sendo sustentada pelo pai e pela ciência, enquanto durasse essa vida de cocota, estava bom.

Fez novas amizades no business, inclusive com Britney Spears, com quem foi a festinhas do pessoal do cinema da Califórnia.

Por fim, Dolly morreu jovem, ideal de uma juventude transviada. Somente meia dúzia de cientistas solitários foram ao enterro. Mas, a ovelhinha entrou para a história, por seus préstimos à ciência e à humanidade.

Dez anos se passaram desde Dolly e, até hoje, não houve um filme digno dessa fobia. Talvez porque correria o risco de virar piada e se transformar em roteiro satírico de Woody Allen. Por sinal, o cineasta foi o único que vislumbrou um pouco dessa convivência ovelha/homem em "Tudo que você queria saber sobre sexo...". Mas, aí, foi outra obsessão.

Sunday, March 25, 2007

"Ponderações sobre o trabalho"

Estou eu aqui, mais um fim-de-semana trabalhando.
Mas, estou tranqüilo.
Tenho uma visão cristã do trabalho. Ofereço a outra face.

Friday, March 23, 2007

Dois atómos sutis no revéillon - versão II (experiências estilísticas)

Não sei que referência cultural, que clichê lingüístico, que cacofonia ou expressão idiomática tiro da manga do paletó para descrever a beleza do revéillon de Copacabana, visto a 1250 metros de altura, do platô da Pedra Bonita. Se pintura, um quadro de Jackson Pollock no céu da Zona Sul. Se música, um louvor de esperança para os que carecem de espiritualidade.

Atente para o pôr-do-sol, crepúsculo tão óbvio, já tão fotografado, ultrapassando os limites da sua banalidade.

É preciso manter-se anônimo diante da fragilidade da língua e de sua total incapacidade para descrever fielmente as espécies e construções, desde a simples flor ao mais intimidador espigão, iluminados pelo sol. Poder-se-ia (mesóclise, por que não?) alegar que não há palavras para descrever. Nem mesmo os deuses as teriam, afirmativa esta próxima da heresia, pois a eles, os deuses, não faltam palavras. Conhecem-nas todas. Se não as usam é porque preferem o silêncio, o escuro, a bolha d'água no mar revolto.

O que dizer se tudo já foi dito?

Afinal, um nome comum, grafado na certidão de uma nova criança, transforma a todas em Cláudias iguais? Mas, quais!!! Prazeres diferentes.

Foi tudo muito bonito, somente, simplesmente. Pronto, fica aqui esse adjetivo, o dito pelo não dito, que, fértil e simples, dá na boca de todo mundo, assim como a maria-sem-vergonha dá em qualquer mato, descampado ou jardim de primavera. Fica aqui o espanto de ver que o Rio é bonito demais do alto.

Percepções todas muito óbvias, mas é assim, óbvia, a mata atlântica, verde simplesmente; o céu azul, azul somente. Lá embaixo, as casas encravadas no meio da floresta nos dão a sensação de que podemos reduzir a velocidade de nossos ponteiros. E, a Rocinha, de longe, desperta em nós o que, hoje, é tão difícil de se manter acesa - a misericórdia.

De longe, tudo é belo, todos são iguais, o trabalho é um fardo leve, e amanhã é um belo dia de sol no firmamento.

O ano finalmente vira. As pessoas se abraçam, suas bocas sabendo ainda a cereja...recomenda-se não esquecer a primeira taça de espumante do ano...a comida é saborosa...a cidra foi barata... a noite não é fria, traz apenas um vento veloz que passa como o trem, lotado, repleto de de eletricidade vital, mais uma das mecânicas do universo. E, não vou aqui fazer ponderações metafísicas, porque o abraço da boa companhia me faz perceber que estou vivo e isso importa mais do que ter dinheiro na conta bancária para pagar pelo ingresso para o céu.

2007 não é apenas um ano, mas será o melhor ano de nossas vidas, e 2008, alguns dígitos melhor e, de dígito em dígito, iremos ultrapassando nossos limites, até que, ao contrário do que vociferam alguns, chegaremos não ao apocalipse, mas a um novo gênesis de nossa existência.

Pois somos puros e verdadeiros, somente, simplesmente... dois átomos sutis.

Monday, March 19, 2007

Dois atómos sutis no revéillon

Não sei que referência cultural, que clichê lingüístico, que cacofonia ou expressão idiomática tiro da manga do paletó para descrever a beleza do revéillon de Copacabana, visto a 1250 metros de altura, do platô da Pedra Bonita. Se pintura, um quadro de Jackson Pollock no céu da Zona Sul. Se música, um louvor de esperança para os que carecem de espiritualidade.

Atente para o pôr-do-sol, crepúsculo tão óbvio, já tão fotografado, ultrapassando os limites da sua banalidade. Afinal, o que dizer se tudo já foi dito?

Sei - é preciso manter-se anônimo diante da fragilidade da língua e de sua total incapacidade para descrever fielmente (e elegantemente, porque aprendemos a ter bom-gosto ) as espécies, desde a simples flor ao mais ultrajante hipopótamo iluminados pelo sol. Poder-se-ia (mesóclise, por que não?) alegar que não há palavras para descrever. Nem mesmo os deuses as teriam, afirmativa esta próxima da heresia, pois a eles, os deuses, não faltam palavras. Conhecem-nas todas. Se não as usam é porque preferem o silêncio, o escuro, a bolha d'água no mar revolto.

É preciso encher a boca de saliva para cuspir a palavra mais longa que se conhece, amaldiçoando-a com o último traço...E, da mais singela, colher a beleza e entregá-la a ti, como fiel depositária.
Afinal, um nome comum, grafado na certidão de uma nova criança, transforma a todas em Cláudias iguais? Mas, quais!!! Prazeres diferentes.

Foi tudo muito bonito, somente, simplesmente. Pronto, fica aqui esse adjetivo, o dito pelo não dito, que, fértil e simples, dá na boca de todo mundo, assim como a maria-sem-vergonha dá em qualquer mato, descampado ou jardim de primavera. Fica aqui o espanto de ver que o Rio é bonito demais do alto. Do que eu concluo que as praias e todas as belezas naturais da cidade não foram feitas propositadamente para serem vistas das varandas dos condomínios caros da Avenida Vieira Souto, mas foram talhadas para serem admiradas pelo próprio Artesão que as projetou, lá da sua morada no céu.

Frases todas muito óbvias, mas é assim, óbvia, a mata atlântica, verde simplesmente; o céu azul, azul somente. Lá embaixo, as casas encravadas no meio da floresta nos dão a sensação de que podemos reduzir a velocidade de nossos ponteiros. E, a Rocinha, de longe, desperta em nós o que, hoje, é tão difícil de se manter acesa - a misericórdia, a caridade. De longe, tudo é belo, todos são iguais, o trabalho é um fardo leve, e amanhã é um belo dia de sol no firmamento.

O ano finalmente vira. As pessoas se abraçam, suas bocas sabendo ainda a cereja...recomenda-se não esquecer de fazer um pequeno gargarejo com o espumante...a comida é saborosa...a cidra foi barata... a noite não é fria, traz apenas um vento veloz que passa como o trem, lotado, repleto de de eletricidade vital, mais uma das mecânicas do universo. E, não vou aqui fazer ponderações metafísicas, porque o abraço da boa companhia me faz perceber que estou vivo e isso importa mais do que ter dinheiro na conta bancária para pagar pelo ingresso para o céu.

2007 não é apenas um ano, mas será o melhor ano de nossas vidas, e 2008, alguns dígitos melhor e, de dígito em dígito, iremos ultrapassando nossos limites, até que, ao contrário do que vociferam alguns, chegaremos não ao apocalipse, mas a um novo gênesis de nossa existência. Pois somos puros e verdadeiros, somente, simplesmente... dois átomos sutis.