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Tuesday, May 24, 2005

Ideogramas....

Ideogramas:

As palavras morrem a cada nova estação.
Então, elas vivem em nós por muito tempo.
Algumas são compridas como centopéias.
Outras nos ferem.
E ainda há aquelas que são restauradoras como vitamina C:
Deliciosas, embalam sonhos e nos fazem ficar acordados por horas sob os lencóis.
Mas todas um dia se desmancham.
Não dizem mais o que diziam.
Como no encontro da saliva e da teia fina do algodão doce.
Ou a água da chuva sendo absorvida pela infinita majestade do mar.
Uma gota que seja, um fio de cabelo, nada passa despercebido.
São palavras como essas que me fizeram pensar naquela noite, um jantar, um final inesperado e mesmo assim sequer foi um final, pois os significados e significantes, vogais e consoantes são capa do jornal de amanhã.

Vejo o novo dia de chuva.
Ela lava, o vento varre e o sol seca.
E assim as palavras se desmancham na nova estação.
São verdes de raiva, roxas de paixão.
Mas são finas como papiros e têm uma textura delicada.
Resistem pouco ao vento e menos ainda ao sereno da noite.
Foram repassadas com autoridade do meu avô para o meu pai,
Um brasão envergado na parede.
E pesam sobre mim como um Tratado de Tordesilhas,
Onde metade é razão e metade, não
Sentimentos divididos por Portugal e Espanha.

Há os que não falam por ordem de Deus.
Há os que falam muito porque desconhecem a ordem.
Em tudo há algo.
E há nomes demais, inexploráveis, rodeados de água por todos os lados.
Há um fim no céu, há um fim no mar, quantas coisas que não conheço moram no que é inatingível.
E, apesar desse trânsito insuportável, há palavras para o pássaro que teima em cantar sobre o galho da árvore.
Ele canta uma letra atrás da outra.
Mas aí são outras palavras.

Há algo que se possa dizer desse céu vermelho-
essa tonalidade esmaltada que o mundo adquiriu por alguns segundos,
mas que será tomada de nós no próximo eclipse solar pela lei da compensação -,
desse cheiro gostoso de gasolina,
desse som de mata fechada.
Há algo no fundo de mim que vai me fazer dizer-lhe, apesar de tudo.
Que pede açúcar para dar gosto ao café.
Existem dois sentidos sim, dois sexos possíveis ao nascer.
Tudo existe no Aurélio.
Tudo existe numa página esquecida, fechada, aberta por necessidade.
Há os que procuram por curiosidade e são felizes.
Quanto dura o que vc me diz?

Tudo existe em algum lugar.
E até o que não existe está lá."

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